Ritual de consagração

Um fio vermelho de sacola se comporta da mesma maneira que células, correndo e se organizando para formar carne e pele. São formas de vidas dúbias, criadas para serem consumidas, comidas, transportadas. Artificiais. Qual a vida útil de uma sacola? Qual a linhagem de um plástico na Terra? Quanto espaço ele ocupa, a ponto de pesar, em sua presente totalidade, mais que a massa humana no planeta? Quem faz e o que faz ele estar em todos os lugares? Porque existe a necessidade dessa presença, mesmo que nem façamos questão? Quem a criou, com qual motivação?
Ao se colocar em um processo de sacramento, sangue e sacola se fazem um só, para além do significado religioso. Ele é a instituição do ser místico na Terra. Daquele violado, destruído em séculos de colonização mental e espiritual. Fazer rituais são meios de agracia-los, pedir perdão por tanto sofrimento desnecessário, em prol de papel valioso infinito a alguns brancos selecionados. É em consequência deles que, enquanto seres humanos, aprendemos e criamos consciência sobre que chão sangrento, plástico, pisamos.
Plástico é tão sangrento quanto o próprio sangue, já que sua criação devasta o centro do nosso antigo mundo verde, de natureza única. Hoje vivemos em uma natureza selecionada pelo plástico, por aqueles que o fazem. Vale a pena viver, querer sobreviver, em meio a tanta destruição iminente?

A presente performance, acima de tudo, se caracteriza como um ritual de consagração de "Fanta Uva", visto que todos os meus trabalhos são considerados por mim como seres vivos, capazes de falarem e reagirem de sua própria maneira. A partir de agora, ele poderá circular entre os lugares, visto que foi cultuado da maneira que merecia.